18 de Novembro de 1125

Hoje a minha mãe veio visitar-me e trouxe o palerma do marido. Não gosto nada do meu padrasto. Chama-se Fernão Peres de Trava. Que nome ridículo... Trava a fundo, não mates a velha! Ah, ah, ah. O que eu e pessoal gozamos com ele. E não penses que é cousa pouca. Aqui há uns anos disse-lhe cara a cara que o achava abichanado e tive que fugir para a Galiza, que o gajo quando se irrita transforma-se. Perde aquele ar efeminado e mete medo ao susto.


Refugiei-me em Tui, na casa de uns amigos. Um dia, táva-mos lá a curtir um som e a contar anedotas de mouros. Nisto, aparecem uns ciganos e começam a meter-se co'a gente. Que o som que ouvíamos era fatela, que éramos uns meninos copo de leite e tal. Bem, eram cantigas de escárnio e mal-dizer, o que não é propriamente música para meninos. Mas os gajos não desistiam de nos achincalhar, até que um deles mostra a lâmina de uma navalha. Aí, não estive com meias medidas. Armei-me em cavaleiro, puxei da espada e comecei a esquartejá-los um a um. Foi um banho de sangue. Ainda hoje, quando encontro o Fanan ou o Luis Miguel, recordamos aqueles tempos com saudade, confesso.


Mas tudo isto a propósito do Trava. Cheira-me que ainda vou ter que me chatear a sério com ele.

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